Oxalá, “O Grande Orixá” ou “O Rei do Pano Branco”, foi o primeiro a ser criado por Olorum, o deus supremo. Tinha um caráter bastante obstinado e independente.
Oxalá foi encarregado por Olorum de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (àse). Para cumprir sua missão, antes da partida, Olorum entregou-lhe o “saco da criação”. O poder que lhe fora confiado não o isentava de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações como os outros orixás.
Porém, uma história de Ifá nos conta que em razão de seu caráter altivo, ele se recusou fazer alguns sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo. Oxalá se pôs a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu òpá osorò ou paxorô, cajado para fazer cerimônias, mas no momento de ultrapassar a porta do além, encontrou Exu, que, entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-se o fazendo sentir uma sede intensa. Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar com seu paxorô, a casca do tronco de um dendezeiro e um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, e não sabia mais onde estava e caiu adormecido.
Veio então Odudua, criado por Olorum depois de Oxalá e o maior rival deste, que vendo o grande orixá adormecido, roubou-lhe o “saco da criação”. Dirigiu-se à presença de Olorum para mostrar-lhe o seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá. Olorum exclamou: “Se ele está neste estado, vá você, Odudua! Vá criar o mundo!”
Odudua saiu assim do além e encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair a substância marrom contida no “saco da criação”, que era terra. Formou-se, então, um montículo que ultrapassou a superfície das águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras e começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que em iorubá se diz “ilè nfè”, expressão que deu origem ao nome da cidade de Ilê Ifé. Odudua se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se assim o rei da terra.
Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olorum e como castigo pela sua embriaguez, foi proibido, assim como aos outros de sua família, os orixás funfun, ou “orixás brancos”, de beber vinho de palma e até mesmo usar azeite-de-dendê.
Entretanto, como consolo, Olorum confiou-lhe a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais Olorum insuflaria a vida. Por essa razão, Oxalá também é chamado de Alamorere, o “proprietário da boa argila”. O grande orixá pôs-se então a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saiam de suas mãos contrafeitas, deformadas, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saíam malcozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram os albinos. Todas as pessoas que entram nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Oxalá.