Filhos das Estrelas e Guardiões dos Caminhos
Dizem que, há milhares de anos, quando o mundo ainda era jovem, os Deuses dançavam sob o céu estrelado. Naquele tempo, o Criador das Estradas olhou para a Terra e percebeu que, embora houvesse reis, camponeses, sábios e guerreiros, não havia quem cuidasse dos ventos, das trilhas e dos mistérios que cruzam os caminhos.
Então, sob a luz de uma estrela azul, Ele reuniu poeira de ouro do deserto, lágrimas do oceano, o calor do fogo, o perfume das flores e o brilho das estrelas. Com suas mãos divinas, moldou um povo livre, forte e belo, destinado a jamais pertencer a um só lugar, mas sim ao mundo inteiro.
A primeira mulher cigana foi chamada Kali, a Negra, de pele morena como a terra fértil, olhos brilhantes como a noite e cabelos longos como os rios. Ela foi abençoada pela Deusa da Lua, que lhe deu o dom da intuição, da magia, das artes e da cura. O primeiro homem foi chamado Rom, que significa “homem livre”. Ele recebeu do Deus dos Ventos a proteção dos caminhos e a força dos que não se curvam.
Os Deuses lhes deram também um presente sagrado: o dom de ouvir as vozes do destino nas cartas, nas linhas das mãos, no som dos tambores e no brilho das chamas. Tornaram-se Guardiões dos Segredos, das estrelas e da roda da vida.
Mas os outros homens, presos às suas terras, palácios e muros, não compreenderam aquele povo livre. E assim começaram as perseguições, as caminhadas intermináveis, os exílios. Contudo, nem o aço, nem o fogo, nem a inveja puderam apagar o espírito Cigano.
Por onde passam, os Ciganos deixam rastros de alegria, música, dança, cura e magia. São filhos da estrada, irmãos do vento e amantes da lua. Carregam no peito a chama da liberdade e, no olhar, os segredos das estrelas.
E assim nasceu o Povo Cigano, não de um reino, nem de uma nação, mas do próprio sopro da Criação.
