Ogum e Xangô eram magníficos guerreiros, mas nunca se reconciliaram. Vez por outra digladiavam-se nas mais absurdas querelas, por pura satisfação do espírito belicoso dos dois.
Certa vez, Ogum propôs a Xangô uma trégua em suas lutas, pelo menos até que a próxima lua chegasse. Xangô fez alguns gracejos, Ogum revidou, mas decidiram-se por uma aposta, continuando assim sua disputa permanente. Ogum propôs que ambos fossem a praia e recolhessem o maior número de búzios que conseguissem. Quem juntasse mais, ganharia. E quem perdesse daria ao vencedor o fruto da coleta. Puseram-se de acordo.
Ogum deixou Xangô e seguiu para a casa de Iansã, solicitando-lhe que pedisse a Iku (a morte) que fosse à praia no horário que tinha combinado com Xangô.
Na manhã seguinte, Ogum e Xangô apresentaram-se na praia e imediatamente o enfrentamento começou. Cada um ia pegando os búzios que achava. Xangô cantarolava sotaques jocosos contra Ogum, que calado, continuava a coleta. O que Xangô não percebeu foi a aproximação de Iku. Ao erguer os olhos, o guerreiro deparou com a morte, que riu de seu espanto. Xangô soltou o saco da coleta, fugindo amedrontado e escondendo-se de Iku. À noite Ogum procurou Xangô, mostrando seu espólio. Xangô, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta.